O poder de
um toque

Nós podemos, com muita reverência, dizer que
João teve um contato direto com Deus. E tudo isso
se deu por meio de Jesus Cristo. Visto que Cristo era
Deus encarnado, que se fez homem, João pôde vêlo,
ouvi-lo, tocá-lo. Veja o que foi dito na Primeira
Carta de João, capítulo 1, versos 1 a 4: “O que era desde
o princípio, o que temos ouvido, o que temos visto
com os nossos próprios olhos, o que contemplamos, e
as nossas mãos apalparam, com respeito ao Verbo da
vida (e a vida se manifestou, e nós a temos visto, e dela

damos testemunho, e vo-la anunciamos, a vida eterna,
a qual estava com o Pai e nos foi manifestada). O
que temos visto e ouvido anunciamos também a vós
outros, para que vós, igualmente, mantenhais comunhão
conosco. Ora, a nossa comunhão é com o Pai
e com o seu Filho, Jesus Cristo. Estas coisas, pois, vos
escrevemos para que a nossa alegria seja completa.”
Nesses quatro versos, encontramos esta verdade
tremenda e também um desafio. A verdade está
no fato de João ter visto, ouvido e tocado Deus, em
Jesus. O desafio está em fazermos o mesmo. Ainda
que João tenha tocado em Jesus pessoalmente,
podemos hoje “tocar” em Jesus na medida em que
nos relacionamos com Ele e também com nossos irmãos
em Cristo. Se João pôde ter essa experiência,
também podemos tê-la.
A fim de que possamos compreender um pouco
mais a fundo como se deu esse relacionamento de
João com Jesus, para que saibamos também como
ter esse mesmo nível de intimidade com Cristo,
estudemos o que João afirmou. No versículo 1 ele
disse: “O que era desde o princípio.” Lemos também
em Gênesis 1 acerca da criação do mundo: “No princípio,
criou Deus [...]” Ao afirmar “o que era desde o

princípio”, João estava se referindo a Jesus. E a ideia
que ele parece querer passar é a atemporalidade
de Jesus, visto que Ele sempre existiu antes mesmo
de o universo ter sido criado. Aliás, ele estava presente
com o Pai e o Espírito no ato da Criação, pois
lemos no verso 26 de Gênesis 1, no ato da criação
do homem: “Também Deus disse, façamos o homem
à nossa imagem, conforme a nossa semelhança [...]”
“Façamos” aqui está no plural. Claro que Jesus, com
o Pai e o Espírito, foram ativos na criação do mundo.
E, diga-se de passagem, não haveria razão de
o mundo ser criado, bem como o homem, se não
houvesse da parte deles (Pai, Filho e Espírito) o desejo
de se relacionar com o homem e sua Criação. E
João parece reforçar essa ideia ao dizer: “O que era
desde o princípio [...]”
Uma vez dito isso, João continua no verso 2: “E a
vida se manifestou, e nós a temos visto, e dela damos
testemunho, e vo-la anunciamos, a vida eterna, a qual
estava com o Pai e nos foi manifestada.” É tão interessante
ressaltar que esse verso 2 está entre parênteses,
fazendo referência ao Verbo da vida. E Jesus é
esse Verbo, pois é dele que João falara. E João parece
extasiado com o fato de não só tê-lo visto, mas

poder ouvi-lo e tocá-lo. Ele fez questão de frisar isso.
Um propósito parece ser um só: testificar, de forma
inegável, que Cristo fora, é e sempre será real. Ainda
que muitos hoje tentem negar a vinda e encarnação
de Cristo, inclusive os próprios demônios.
Já no verso 3, João pareceu ir mais fundo ao afirmar:
“O que temos visto e ouvido anunciamos também
a vós outros, para que vós, igualmente, mantenhais
comunhão conosco. Ora, a nossa comunhão é
com o Pai e com o seu Filho, Jesus Cristo.” João ouviu
as palavras do Senhor. Talvez quando ele (João) escrevera
essas palavras, tivera em mente os muitos
momentos que passaram juntos. E de fato, foram
inúmeros. Um deles fora no mar da Galiléia, na
ocasião da forte tempestade que se abatera sobre
o pequeno barco em que estava com os demais
discípulos e, claro, Jesus. Diz o relato em Marcos 4,
versos 37 a 39: “Ora, levantou-se grande temporal de
vento, e as ondas se arremessavam contra o barco, de
modo que o mesmo já estava a encher-se de água. E
Jesus estava na popa, dormindo sobre o travesseiro;
eles o despertaram e lhe disseram: Mestre, não te importa
que pereçamos? E ele, despertando, repreendeu
o vento e disse ao mar: Acalma-te, emudece! O vento

se aquietou, e fez-se grande bonança.” O mar estava
agitado e Jesus dormia. Imediatamente após sua
repreensão à tempestade, veio a bonança e o mar
se acalmou. Os discípulos, ente eles João, adoraram
a Jesus. Creio que João podia lembrar-se do som da
palavra do Senhor dizendo: “Mar, acalma-te”. Era a
palavra do Senhor, era Jesus falando, era Deus falando.
Quem sabe ecoava ainda nos ouvidos de João a
palavra de Jesus diante do túmulo de Lázaro, quando
ele dissera: “Lázaro, vem para fora!” O relato de
tal fato está em João 11. Aquele corpo já estava em
estado de putrefação, já morto há quatro dias, e de
repente, o Senhor ordena a Lázaro, dizendo: “Vem
para fora.” As células se reconstituíram, o sangue
passou a circular pelas veias, a carne que já estava
apodrecendo se revitalizou, a vida penetrou no corpo
do amigo do Mestre, e Lázaro saiu da caverna.
“O que temos visto e ouvido.” João também deveria
ter em mente a voz do Senhor dizendo: “Eu sou
o pão. Eu sou a luz. Eu sou a ressurreição e a vida.” “Eu
sou!” Ele afirmou nos versos 2 e 3: “E a vida se manifestou,
e nós a temos visto, e dela damos testemunho,
e vo-la anunciamos, a vida eterna, a qual estava com

o Pai e nos foi manifestada, o que temos visto. “O que
temos visto isto vos anunciamos.” João viu também
o momento de glória no monte da transfiguração,
quando as próprias vestes de Jesus brilharam e a
sua face resplandeceu como o Sol. João teve o privilegio
de contemplar tudo isso. João vira Jesus Cristo
caminhando por sobre as águas, quebrando as leis
da natureza. E não fora apenas João que tocara a Jesus.
O incrédulo Tomé também fora um. Pois Jesus
lhe dissera por ocasião de sua aparição a muitos:
“Põe aqui o dedo e vê as minhas mãos; chega também
a mão e põe-na no meu lado também a mão e põe-na
no meu lado; não sejas incrédulo, mas crente.” (João
20.27.)
Por todos os evangelhos – de Mateus a João –
vemos muitos tocando a Jesus e sendo tocados por
Ele. Até mesmo que não queria tocá-lo foi transformado.
Como foi com a mulher que sofria com o
fluxo de sangue e após tão somente ter tocado nas
suas vestes, fora curada. E nessa ocasião, Jesus se
revelara a ela. Tocaram no Verbo da vida, no próprio
Deus. Lemos em João 1.14: “E o Verbo se fez carne
e habitou entre nós, cheio de graça e de verdade, e
vimos a sua glória, glória como do unigênito do Pai.”

Também lemos no verso 2 de 1 João: “E a vida se
manifestou, e nós a temos visto, e dela damos testemunho,
e vo-la anunciamos, a vida eterna, a qual estava
com o Pai e nos foi manifestada.” Jesus era e é a
vida viva e manifesta. E vida de qualidade mais que
quantidade. E é essa vida que Ele tem para todos
nós, conforme lemos em João 10.10. Para os discípulos,
que eram apenas pescadores, havia apenas
o mar da Galiléia. Mas Jesus lhes apresentou horizontes
maiores. Ele falou de vida no sentido real,
profundo, com uma conotação de eternidade, de
qualidade. A vida eterna.
Ao escrever essa carta, João dá a entender claramente
que esta vida está também disponível a nós.
Podemos ver, ouvir e sermos tocados por Deus, por
meio de Cristo Jesus. A experiência com Deus, para
João, de ter ouvido, de ter visto e de ter tocado em
Jesus, não se tornou apenas um patrimônio dele,
mas algo que todos nós podemos ter. Qualquer homem,
qualquer ser humano pode ter esse mesmo
privilégio. Você pode dizer: “Ah, se eu tivesse tido o
privilégio de andar com Jesus, de comer com Jesus,
de dormir perto de Jesus!” O que João quer dizer é
que há possibilidade de termos o que ele teve. Co12
nhecer a Jesus é uma realidade, é algo concreto. Ao
final da sua vida, já avançado em dias, João escreveu
essa carta, não só como testemunho, mas como
desafio a cada um de nós.

(Pastor Márcio Valadão)

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